Salim, o Mágico – Malba Tahan

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Era uma vez na longínqua Damasco, no tempo do Califa Al-Walid, um humilde cordoeiro chamado Salim… Salim era muçulmano, temente a Alah e piedoso, casado com Nurenahar, a cristã. Era marido de esposa única e tinha três filhos, dois meninos e uma menina; era o exemplo de como cristãos e muçulmanos podem conviver em harmonia.

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Eu sempre fui apaixonada pela cultura do oriente médio, talvez por causa da minha ascendência libanesa (minha bisavó nasceu no Líbano) e ter escutado do meu avô a história de como no início do século meus antepassados atravessaram o deserto em camelos para chegar a Turquia onde conseguiriam embarcar para o Brasil como comerciantes turcos… Até hoje temos uma bolsa de couro com libras esterlinas. Outra memória marcante é de ainda criancinha acordar cedo aos sábados para assistir um desenho chamado “Sandokan” na tv.

Malba Tahan é brasileiro, famoso por difundir a cultura Árabe e por seus livros terem grande reflexo da situação política em que foram escritos, é autor do conhecido “O Homem que Calculava”, uma fábula oriental tal como a história em questão além de vários tratados sobre o oriente.

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Em “Salim, o Mágico” além de uma belíssima fabula sobre a convivência pacífica entre diferentes religiões e demonstrar de uma forma natural e descomplicada uma cultura tão mal interpretada pelo mundo ocidental é uma paródia da situação política do Brasil dos anos 60 e da ditadura militar assim como a corrupção, o nepotismo e outros problemas ainda atuais em nosso país mesmo tendo se passado mais de quarenta anos em que foi escrito. Para mim isso bastaria para ganhar 5 estrelas no skoob.

Há dois poréns no livro. Primeiro o narrador onisciente está contando a estória de Salim enquanto espera seu voo para Damasco para pesquisar os mesmos fatos mais a fundo de forma que a narrativa é interrompida diversas vezes para descrever quem está na sala de embarque ou dizer quão pouco tempo tem para narrar.

O segundo ponto é menos irritante, mas cria dificuldades para o leitor não acostumado a narrativa oriental. As descrições e detalhamentos são extensos, extensos em uma maneira a qual não estamos acostumados, como inúmeros detalhes de roupas, vestimentas e hábitos culturas fora as inúmeras ligações históricas e folclóricas que são citadas. Há, por exemplo, um capítulo inteiro exaltando os camelos. Considero interessantes tais descrições apesar de frequentemente interromperem a linha narrativa e confundirem o leitor desacostumado. Porém os capítulos são divididos em inúmeros subcapítulos compostos de um ou dois parágrafos o que facilita a leitura.

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O enredo começa simples, Salim é um homem pobre e honesto que trabalha como cordoeiro em Damasco. Um dia aparece um mágico indiano na cidade que anda com um pombo pousado no turbante, isso seria um fato banal, corriqueiro, no máximo curioso se uma criança não tivesse colocado migalhas de pão no turbante de Salim e os pombos de Damasco passam a pousar ali. Nurenahar descobre o que aconteceu e passa a fazer o mesmo todos os dias para tentar atrair sorte para sua família e consegue, Salim passa a ser reconhecido como mágico por toda a cidade e, pior, passam a requisitar mágicas a ele! Só que a um problema… Ele não sabe fazer mágica alguma!